1909 - 2019
110 ANOS DE HISTÓRIA
Estamos no mercado há cento e dez anos. Acompanhámos a mudança, a independência e o desenvolvimento de Moçambique. Foi mais de um século a construir e solidificar uma relação de estabilidade e transparência com o mercado moçambicano.
Na época, a actual Cidade de Maputo não passava de um pequeno povoado ladeado de pântanos, onde a vida era extremamente árdua e a morte espreitava a todo o momento. Não havia água canalizada, nem electricidade, nem arruamentos.
No passado Século XIX, a 7 de Junho do ano de 1896, João António de Carvalho, natural do Concelho de Aveiro, Portugal, oriundo de uma modesta família e com apenas 18 anos de idade, embarcou na terceira classe do navio mercante alemão Bundesrath, com destino a Moçambique.
No dia 22 de Agosto do mesmo ano, cerca de um mês e meio depois, pisou a terra a que iria ficar ligado para o resto da sua vida: Lourenço Marques.
Na época, a actual Cidade de Maputo não passava de um pequeno povoado ladeado de pântanos, onde a vida era extremamente árdua e a morte espreitava a todo o momento. Não haviam casas confortáveis, nem água canalizada, nem electricidade, nem arruamentos.
Ao desembarcar com a sua pequena mala de mão, João António de Carvalho foi deambulando pela zona do cais, na Rua 18 de Maio, hoje conhecida por Rua Mártires de Inhaminga, até se deparar com um pequeno estabelecimento comercial que vendia um pouco de tudo, desde carvão e petróleo a produtos de mercearia e vinho. Ali arranjou trabalho e acolhimento, dando assim início à sua vida em África.
Ávido de conhecimento por ter apenas a instrução primária - pois as posses financeiras da família não permitiram que continuasse os estudos - rapidamente se apercebeu que além dele próprio, as pessoas que viviam na então cidade de Lourenço Marques, actual Maputo, apenas tinham acesso a publicações na língua inglesa, vindas da África do Sul. Sentiam, portanto, a necessidade de ter acesso a notícias e a outros tipos de leitura na sua língua materna.
“Carvalhinho”,como carinhosamente ficou conhecido mais tarde, começou a mandar vir de Portugal jornais, almanaques, livros de autores conhecidos e até o Borda d’Água, para os comercializar no estabelecimento onde trabalhava.
“Carvalhinho”, como carinhosamente ficou conhecido mais tarde, começou a mandar vir de Portugal alguns jornais e almanaques, livros de autores conhecidos na época e até o Borda d’Água, para os comercializar no estabelecimento onde trabalhava. Durante alguns anos, a aceitação e o sucesso crescente fez com que “Carvalhinho” começasse a pensar em abrir um estabelecimento dedicado apenas a esse tipo de produtos, pois como ele próprio disse:
– “Sentia-me mal com uma livraria numa mercearia onde, por vezes, apresentava os livros com as mãos negras de vinho e cheias de gordura de toucinho”.
Então, em 1908, João António de Carvalho, na altura com 29 anos e um enorme gosto pela instrução – o que o levou a atribuir a si mesmo a missão de levar de forma gratuita, livros de ensino a estudantes sem recursos de todos os pontos de Moçambique – inaugurou na então Rua D. Luis, actual Rua Consiglieri Pedroso – num edifício de piso térreo, feito de pedra e cal, com um longo alpendre de chapa ondulada e colunas de ferro, idêntico a tantos outros desse tempo – a sua Livraria, Papelaria e Tipografia adjunta: a Minerva Central.
Foi cerca de um ano depois, a 1 de Outubro de 1909, com a chegada do também português Manuel Arnaldo da Silva, natural do Porto, tipógrafo muito competente e grande amigo de “Carvalhinho”, que a Minerva Central - Oficinas Gráficas, pioneira em Moçambique, assumiu um papel fundamental na indústria gráfica moçambicana, fundando várias publicações nacionais e fazendo frente à forte concorrência dos artigos produzidos em larga escala vindos de Portugal e da África do Sul.
A empresa continuou o seu percurso harmoniosamente durante décadas. Ao “Carvalhinho” sucedeu o seu irmão Sebastião Carvalho apoiado pelo filho mais novo do primeiro, Jorge Furtado de Carvalho, que além de demonstrar preferência pelo sector gráfico, sempre manteve bem vivo o ideal deixado pelo pai, de ajudar quem necessitava.
A 1 de Outubro de 1909 nasceu a Minerva Central - Oficinas Gráficas, pioneira em Moçambique, que assumiu um papel fundamental na indústria gráfica moçambicana, fundando várias publicações nacionais enfrentando a concorrência de Portugal e da África do Sul.
A guerra chegou em 1964 e a empresa, à semelhança do país, passou por uma fase dramática. Foram dez anos de sacrifícios para garantir que os trabalhadores nunca iriam para casa sem o sustento das suas famílias.
É em 1973 que João António de Carvalho, homónimo do avô e filho de Jorge Furtado de Carvalho, começa a ajudar o pai e mais tarde, já em 1995 após o falecimento deste, toma as rédeas da empresa.
Empreendedor à semelhança do seu avô e dos seus outros antecessores, João António de Carvalho deu início a uma verdadeira reestruturação das Oficinas Gráficas, que sofriam de alguns problemas de gestão e de falta de pessoal qualificado.
Contratou pessoal com competências profissionais comprovadas, fundou e equipou o novo e moderno sector de pré-impressão, a PrePress, melhorou substancialmente as condições de trabalho com potentes aparelhos de ar condicionado, promoveu o uso de uniforme para os trabalhadores, montou um sistema de ponto electrónico e melhorou o sistema de contabilidade. Modernizou também as instalações, criando uma zona de recepção para os clientes e pintando o edifício da mesma cor dos uniformes do pessoal. Além disso, João António de Carvalho realizou vários contratos com sólidos clientes, o que assegurou bom trabalho e estabilidade duradoura para a empresa, diversificando também as áreas de negócio do que se poderia já apelidar de Grupo Minerva.
Com o desafio de garantir a sustentabilidade económica do projecto que herdou da família e uma responsabilidade que não lhe dava tréguas, João António de Carvalho tinha grandes planos no horizonte, tendo dado início a alguns deles. Mas todo este empenho no futuro da empresa fez com que não desse a devida atenção à sua saúde e no ano de 2003, faleceu devido a problemas cardíacos, ficando Edith Carvalho, sua mãe, à frente da empresa.
Mais recentemente, em 2017, dá-se uma divisão das áreas de negócio do Grupo Minerva.
A tipografia adjunta fundada por “Carvalhinho”, o sector preferido do filho Jorge Furtado de Carvalho e fortemente reestruturado pelo neto João António de Carvalho, continua a crescer – agora independente, com a sua designação actualizada para Minerva Print – sobre fortes alicerces centenários nas mãos do seu bisneto Jayson Carvalho.
Há 110 anos, o sonho de João António de Carvalho, o “Carvalhinho da Minerva”, ganhou forma. Hoje, permanece tão vivo como então, projectando a dimensão e a qualidade da indústria gráfica moçambicana em direcção ao futuro.